quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sete problemas sete soluções


Ao ouvirem falar de problemas e soluções, os alunos associam-nos de imediato a uma aula de matemática. De facto poderia ser, pois são levados a pensar. O desafio é lançado pelo Dr. Alfredo Leite. Ele não é matemático, mas é mestre em fazer pensar. É psicólogo educacional.
Pelo segundo ano consecutivo, na sequência do protocolo celebrado entre a Associação de Pais e Encarregados de Educação da EB Zeca Afonso e o projeto “Mundo Brilhante”, Alfredo Leite deslocou-se, ao longo do ano letivo, quinzenalmente, à EB Zeca Afonso para, com uma turma de cada vez, dinamizar sessões lúdico-pedagógicas sobre “Prevenção da Indisciplina e Desenvolvimento de Competências dos Alunos”, dirigidas à educação pré-escolar e ao 1.º ciclo. Como vem sendo habitual, às quartas-feiras, ele aguarda na biblioteca escolar pela chegada dos alunos e do respetivo professor para dar início a mais uma sessão.
As sessões constam do Plano Anual de Atividades e têm por objetivo motivar os alunos para o desenvolvimento de competências, ajudando-os a estimular e aumentar o seu otimismo, contribuindo para que haja um clima amigável e cooperante entre eles. Em suma: são aulas de psicologia positiva e de felicidade, que colocam os alunos a raciocinar. Os alunos ouvem, refletem, dialogam e interagem. Alfredo Leite cativa-os, usando o seu “pozinho mágico”, esgotando num ápice os 60 minutos da sessão.
Ele é disciplinador e inspirador; as suas palavras são admiráveis. Logo no começo da sessão, controla a agitação de alguns alunos que entram na biblioteca. Seguidamente, pede a todos que identifiquem sete problemas. Com a projeção e a exploração de imagens e com as pistas que fornece aos alunos vão sendo identificados problemas: o cansaço, a teimosia, a indisciplina na
sala de aula, a falta de educação, a violência, etc..
No decorrer da sessão aborda algumas emoções negativas, entre elas, a raiva, a agitação, a ansiedade, a frustração, o ódio, o desgosto e a distração. Tais emoções permitem afinal sistematizar os problemas que haviam sido identificados pelos alunos. Até a amígdala cerebelosa é tema de conversa. Os alunos ficam a saber que ela regula as emoções, nomeadamente a fúria, aumentando de tamanho quando não descansa o suficiente. 
Os professores titulares de turma ficam surpreendidos com a participação interessada dos alunos e com a grande capacidade de comunicação do orador. Este consegue estimular a atenção e a curiosidade dos alunos, ao mesmo tempo que apela à capacidade de raciocínio. Cada sessão é única e acaba por ser uma terapia de grupo. São fornecidas dicas e estratégias aos alunos para que estes possam aprender a autocontrolarem-se. 
A propósito do autocontrole, algumas crianças da educação pré-escolar relataram o seguinte: «Eu aprendi a fechar os olhos e a fechar a mão para me acalmar.»; «Eu aprendi a pensar e a ligar o botão que tenho no cérebro para ficar sossegada.»; «Gostei mais de ouvir o Dr. Alfredo a dizer como nos devemos sentir bem com o nosso corpo.»; «Eu aprendi a deixar de chorar, a não bater com a cadeira e a saber esperar.»; «Eu aprendi a respirar e a ter calma e a não apontar com o dedo para fazer asneiras.» 
Depois de terem identificado os problemas, Alfredo Leite solicita aos alunos que pensem em sete soluções. Estas são as respostas para as emoções negativas. Surge então o momento da descoberta de emoções positivas. Registam-se, entre outras, a admiração, a tranquilidade, a calma, o entusiasmo, o amor, a alegria e a atenção.
Oportunamente, Alfredo Leite aproveita a ocasião para transmitir que existem adultos que não dão qualquer importância àquilo que realmente é importante na vida. Uns importam-se exclusivamente com a sua carreira profissional; outros só pensam nos euros que têm no banco, na roupa que usam e no carro que têm. Afirma que essas pessoas não veem com o coração; veem só com os olhos. Completa o raciocínio, realçando que felizmente ainda existem adultos que se parecem com as crianças e compreendem-nas. Adultos que gostam de flores, de animais, do céu azul, das estrelas e do mar. Isso, sim, é o mais importante, sublinha. Com tamanhos conselhos para a vida, chega ao fim a sessão, não sem antes Alfredo Leite pedir aos alunos que transmitam aos seus pais para lerem com os filhos o livro “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry.
No final de uma das sessões, ouvimos o que sente o coração do próprio Alfredo Leite: «É lindo senti-los chegar no corredor, sempre muito curiosos (viva a curiosidade!), sempre muito bem dirigidos pelos professores (afinal, vão ver "o senhor Alfredo Leite"). Aprendo muito com eles. Aprendo porque tenho de estar sempre no meu melhor! Se "baixo a guarda" a sessão pode perder-se porque eles teriam sempre muitas perguntas a fazer-me.»
Acrescenta ainda: «Por outro lado, algumas crianças estão agitadas devido a toda a dinâmica familiar dos dias de hoje. Precisamos que estejam atentos, por isso damos tudo. E depois é ver a cara deles. Os olhos muito expressivos. Por vezes os adultos não entendem e pedem para eles não rirem quando a sessão tem tanto humor, mas é natural. Os adultos sentem-se (por vezes) avaliados indiretamente pela sessão. Mas a sessão não tem nada de avaliação! Pelo contrário, há momentos em que preciso que eles não acertem à primeira. É sinal de que estão a pensar, a refletir.»
Termina, referindo que «Se os pais os vissem (eu tenho três filhos!) iam ficar orgulhosos. Eles partilham histórias da família, às vezes inventam um pouco (às vezes para ajudar a sessão a avançar) e às vezes ficam com lágrimas nos olhos. É verdade. Se um dos momentos da sessão deste ano é referir as emoções negativas, por vezes acontece ficarem com as lágrimas nos olhos (embora isso me parta o coração).»
A par do comentário de Alfredo Leite, damos a conhecer o comentário coletivo dos alunos de uma turma do 3.º ano: «Nesta sessão com o Dr. Alfredo Leite aprendemos a controlar as emoções, ou seja, devemos pensar antes de agir; esperar pela nossa vez; controlar a raiva; amar; rir ou chorar (...). Se, por alguns momentos, fecharmos os olhos talvez encontremos muitas soluções para os nossos problemas.»
Os trabalhos efetuados pelos alunos após as sessões evidenciam que as palavras que ouviram de Alfredo Leite deixaram raízes. A prova disso são algumas frases proferidas pelos alunos de uma turma do 2.º ano: «Aprender com o Alfredo Leite foi muito importante. Aprendemos a ser bem-educados e a respeitar as pessoas. Alfredo Leite foi muito amigo ao explicar-nos isso.»; «Eu aprendi que devemos parar e pensar.»; «Aprendi que o nosso cérebro é um órgão que comanda o nosso corpo.»; «O Dr. Alfredo Leite ensinou-nos a resolver os nossos conflitos.».
Uma turma do 1.º ano fez um acróstico em torno da palavra “pensar”, que espelha vivamente as aprendizagens realizadas. As crianças da educação pré-escolar desenharam sobre a sessão a que assistiram na biblioteca da escola; os seus desenhos refletem as emoções que sentiram e os conhecimentos que adquiriram. Não é possível deixar aqui os testemunhos de todos; mas a experiência vivenciada por crianças e alunos contribuiu certamente para o seu desenvolvimento pessoal.
A última palavra é a dos professores da EB Zeca Afonso. Todos sentem orgulho do trabalho realizado na escola. Congratulam-se com a iniciativa da Associação de Pais e Encarregados de Educação da EB Zeca Afonso de trazer à escola um psicólogo educacional tão competente. Felicitam o Dr. Alfredo Leite pela qualidade das suas intervenções, expressando o desejo de, no próximo ano letivo, voltarem a recebê-lo.
Esta iniciativa demonstra que os alunos ganharam com o esforço de todos. Foram-lhes dadas algumas condições para se tornarem mais confiantes, esperando-se por isso que no futuro sejam adultos mais felizes. 

EB Zeca Afonso, junho de 2016

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